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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Do blog Carlos Britto: "O tribunal da internet que julga impiedosamente, sem defesa".


E a internet virou tribunal de exceção. Agora é normal a proliferação de comentários, publicações que invadem as redes sociais o tempo todo, agora!
Nesse exato momento um julgamento sumário está acontecendo e a próxima vitima pode ser alguém, muito próximo da gente. Ou nós mesmos.
O medico Jânio Modesto está hospitalizado, entubado em uma UTI. Mas agora deixou de ser o médico amigo, que, muitas vezes atendeu gratuitamente, doou medicamentos, ajudou pessoas, empregou dezenas, foi na casa de alguém no meio da noite sem cobrar nada.
Virou o “defensor de Bolsonaro”, o “amigo da cloroquina” e um sem fim de acusações no momento que luta pela vida.
O tribunal da internet se esqueceu que, deitado no quarto frio da UTI, tem um pai, um esposo, um filho, um irmão. Um ser humano como todos os outros com defeitos e virtudes. Não é um número, uma estatística. É uma pessoa.
Fico me perguntando em qual momento da curva nos perdemos. Como deixamos de amar, de valorizar a vida para defender nossos ideais estúpidos da politica ou da acusação.
É mesmo esse o momento de julgá-lo? Temos mesmo esse direito? Quem nos deu o poder de juízes para, hipocritamente, acreditarmos que a nossa verdade é a absoluta?
Esse texto não fala de posicionamentos políticos ou da fala certa ou errada que Jânio Modesto defendeu. Fala de amor humano, escrita por alguém assustado com o que estamos nos tornando.
Fico pensando na dor dos filhos, no medo de perder o pai, na esposa sem poder acolher o homem amado, na mãe que já sofria com os ataques anteriores nas mídias sociais, nos funcionários e nos amigos que sentem na pele o horror de um vírus que mostra sua face mais dura.
Os julgadores são pessoas que se julgam perfeitas, que moram em frente da tela de um celular, computador e transformam o que deveria ser convívio social em um verdadeiro tribunal que julga impiedosamente.
Neste julgamento, nas redes sociais, não há espaço para a opinião contraditória.  Muito menos para qualquer defesa.
Lembrei de uma citação de  Albert Einstein  que disse; “Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade”
“Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” assim está escrito no livro de Mateus em seu capitulo 23.
Agora, a busca frenética pelo protagonismo, pela celebridade que se tenta parecer, por aparecer ou tentar parecer inteligente nos embruteceu. O olhar terno que perdemos deu lugar ao dedo em riste. Penso que chegou a hora de repensarmos, pois estamos beirando o abismo.  Que já podemos enxergar. (Fonte: carlosbritto.com)

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